sexta-feira, 10 de abril de 2009

5° ATO

Entra a Figura:

"Todo erro é em prol de uma boa causa".

São projetadas imagens de pessoas, como se estivessem andando numa via movimentada. Todas cores estão juntas, cada uma é iluminada por um holofote referente a sua cor. Elas estão em oposição às pessoas projetadas. Sempre correndo em direção contrária. O Narrador2 , todo polido em vestes e modos, entra e diz com uma voz firme:

As cores sentem antropofobia
Devido a esse imenso e infinito ambiente.
Tão promíscuo, sendo precisamente
O que as esgota de melancolia.

Ícones de objetos se comunicando. Combinações totalmente inusitadas. São projetadas imagens do Teorema de Pitágoras. As personagens formam triângulos entre si. O Narrador2 na postura de um palestrante vai dizendo:

As coisas falam para as coisas, artes
Que ninguém entende, salvo as metáforas,
Aquele triângulo de Pitágoras
Que não se mede pelo todo, as partes.

Como estão nessa medida paranóica,
As cores choram na hora da verdade,
É quando sabem com sinceridade
A mentira agamoginomonóica.


As cores estão chorando e, uma por uma, vão se deitando na posição de mortos. Até que gritam na última frase. O Narrador2 continua na mesma postura:

As coisas que ficam por toda volta,
Admiro, invés de retas estão tortas
Como canteiros vivos em suas hortas.
Ou o cadáver que, mudo, o grito solta.

Tudo se apaga, o Narrador2 ainda imóvel cita a sua fala:

No prefácio da disputa incolor
Grita enfático no pódium:

Então, três incolores pulam de um pódium com seus tacapes na mão, como se fossem primatas. Furiosos vão ameaçar as cores e gritar a sua fala:

Tu somes!
- Nomes, é, por favor, eu quero nomes,
Mais simples a Nabucodonosor.


Tudo se apaga novamente. A luz ilumina apenas o Narrador2 que permanece imóvel e dizendo na maior diplomacia:

Sentimos as coisas como distorcem
Ser, e não o que realmente são,
É a discórdia entre Orwell e Platão
Na filosofia do zero até cem.

Som de aplausos sem parar. Narrador2 vai ficando nervoso, sua face muda, ele então se mexe e grita histérico e ao mesmo tempo sarcástico:

Aplausos. Ato idiota, tão cretino
Quanto à auto-personalidade humana.
Saúda a personagem que ela engana,
Fazendo seu choro, a cores, um hino.


As cores estão com os braços abertos, pés juntos, encostadas na parede, como se estivessem crucificadas. O Narrador2 aponta para as cores enquanto fala:

Que coisa horrível, a religião
Das coisas. Só falta ter um sentido,
Esse que não seja repetido,
Pois essas coisas fedem como um cão.


Virando-se para a platéia, em desespero, chorando, o Narrador2 aos prantos vai terminando sua fala quase no chão, falando devagar, mas balbuciado:

Pessoas inteligentes dormem mal,
Já não sonham mais. Com sua objetiva
Registram um instante de cor viva.
É capeta ou santo, o antro marginal.


SILÊNCIO. O Narrador2 se levanta limpando a poeira dos ombos do seu terno e do sapato e de uma forma totalmente desprezível vai andando em direção às cores, que estão enroladas numa “embalagem de jornal”. O Narrador2 liberta as cores que saltam de um lado para o outro. Todos elas ficam em posição de sentadas no ar como se estivessem digitando freneticamnete nos seus notebooks. Conversam com a "máquina", entre si, aleatoriamente. O Narrador2 encerra:

Há ainda uma coisa! Não aceite
Devoluções, nem embrulho em jornal,
Esqueces da qualidade total.
Coisa neo-positivista em deleite.

Fecham-se as cortinas.

Entra a Figura:

“O amor sempre começa por um caminho e acaba, sem dúvida, em algo completamente sem sentido.”

Antes de sair, porém, a Figura para, pela primeira vez, e olha para a platéia de forma macabra e ameaçadora, ela tem uma paleta de cores na mão, solta um riso arrepiante e depois segue.

FIM

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