sexta-feira, 10 de abril de 2009

2° ATO - Parte I

Entra a Figura:

Parabéns coveiros que nos encovaram.
Estamos perfeitamente encovados.
Ninguém melhor encovados que nós.
Esterco de terceira mão.”
(Sebastião Nunes)


Zumbidos de abelha soam pelo lugar. Tudo escuro. Som tridimensional que imita abelhas passando zumbindo nos ouvidos. Algo na platéia, com tudo escuro, voa como se fosse uma abelha atingindo as pessoas. Começa devagar e vai crescendo, crescendo, até ficar insuportável e ir diminuindo e voltar ao silêncio, com um ou outro zumbido. A luz foca aos poucos o Narrador1. Ele está tirando a roupa de apicultor. Para ficar só de pijamas. Abre-se o cenário, tudo está estartalado de tons amarelos. Girassóis, flores, pássaros, frutas. E Amarela está lá, com seu vestido de rendas todo amarelo a la Lolly Poppins, com sombrinha e tudo. Ela está mexendo, sua sombrinha, mas está triste, cabisbaixa. O Narrador1 pega um megafone e começa a dizer:

(Dentro)

“Inatingível peça feminina,
Cabelos de mel, pele soa macia
Num compasso colorido de aveia.
Talvez me sinta como um, a mais, súdito.


Amarela começa a dançar timidamente, como uma criança.

Danças tu, também, para o encantamento,
Bajulando a estética do perfeito.
Quem a degusta, certo se lambuza.
Só azedo, antes tarde do que cedo.


Um balde com algo imitando mel é despejado sobre o Narrador1. Ela vai pulando inocentemente pelo “campo” em direção ao Narrador1. Ele – já sem o megafone – diz:

É nessa sua imagem característica
Que o seu corpo moldado ainda me excita,
Pois errar é julgar seu raciocínio.


O Narrador1 encerra mandando um beijo em direção à garota, que continua se divertir como se não o visse.

Que na hora do fascínio desentende
A cabeça inflamada, minha sátira.
Sinta o gosto de pus se eu te beijar.


A luz se apaga novamente, o foco é só no Narrador1. Uma voz de fundo tenebrosa, fúnebre, narra enquanto ele anda descontrolado pelo palco.

(Fora)

Toda vez a tristeza lhe consome.
Sente o peso da angústia nas suas costas
Não encontra direção, ou uma rota,
O fim é sua sede, meta –a tua fome.

Essas imagens que o mundo projeta
São movimentos que nunca param,
Que não existem, que por muito falham.
Decomposição! É o que lhe resta.

Não adaptas, tu, nesse movimento.
Sei que há mágoa nos que lhe rodeiam,
Pois sua ação final fará lamento.


Cai. Ajoelha-se, tira uma arma do bolso e aponta para a cabeça.

Então, por mais incrível que pareça,
O ato que alivia esta sua doença podre
É disparar três balas na cabeça...”

As luzes se apagam. Ouve-se um tiro e um corpo caindo no chão.

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